doug e mudanças
num final de semana meio nublado, lá fora e aqui dentro, eu resolvi assistir a um episódio de doug. era só pra me distrair, ver algo lúdico e simples. nossa, como eu amava doug quando era criança...
o episódio começa com ele escrevendo no diário. ele fala que não está escrevendo muito por não ter assunto. tudo segue igual, sem novidades. sua escola está sendo reformada, ainda gosta da patti maionese, roger klotz continua como sempre e seu melhor amigo, skeeter, também segue o mesmo. doug segue escrevendo sobre as mesmices da sua vida. em breve ele vai fazer 12 anos. o que você lembra de quando fez essa idade?
a mãe de doug pede pra ele cortar o cabelo, já que logo as aulas vão começar. chegando no cabeleireiro, o profissional diz que ele precisa de um corte de alguém que vai pro ginásio. aí é que doug começa a sentir que as coisas estão mudando. e vem um incômodo. ele vai embora, não consegue escolher o corte.
de repente, tudo parece mudar. sair do c o n t r o l e.
fiquei pensando no pouco mais de maturidade que tenho hoje e no que será que eu conseguia captar das mensagens dos desenhos quando era criança. foi um episódio tão curtinho, mas já senti que iria mexer, mudar algo dentro de mim. com certeza, a temática mudança é algo que vem bastante na minha vida. eu não lido muito bem com mudanças repentinas, imprevistos. gosto da previsibilidade da minha agenda e de saber o que vou fazer no dia seguinte. nesse sentido, eu não me considero uma pessoa muito espontânea.
acho que é bem mesmo com 12 anos que fui percebendo mais as mudanças. a gente vai crescendo e vendo quantas possibilidades a vida oferece. a terapia é um espaço que eu tenho hoje pra desabafar sobre o que mudou e eu não gostei. mas também pra me flexibilizar um pouco, pra viver uma vida mais saudável. consigo perceber o que minha rigidez me trouxe de não tão positivo. consigo ver um imprevisto que, no final, nem foi tão ruim assim.
voltando ao episódio, tem um momento em que o doug e o skeeter descobrem que a lanchonete preferida deles vira um restaurante francês. além de várias outras mudanças frustrantes, ele volta pra casa chateado e encontra sua mãe, que repara que ele ainda não cortou o cabelo.
a mãe diz: “douglas, você não está preocupado com um pouco de mudança, está?”
fiquei pensando em mudanças significativas na minha vida. as que aconteceram porque eu quis e as que não. talvez meio clichê pensar que todas me trouxeram até aqui – um aqui que gosto –, mas é realmente importante lembrar que como você passa os seus dias é como você passa sua vida. o quanto tudo isso me convida, ou algumas vezes me empurra, a sair do conhecido e encarar o que é novo. todos esses acontecimentos não são apenas fatos, mas movimentos da minha psique para a individuação. já escrevi um pouco sobre isso há uns posts atrás...
toda mudança significativa tende a mexer com nossos conteúdos inconscientes. medos, traumas, resistências... podem surgir sonhos esquisitos ou até mesmo sintomas físicos. a ansiedade diante do novo não é só medo do imprevisível, mas também pode significar partes internas nossas que ainda precisam ser olhadas. costumo trazer uma imagem assim: pense que você está entrando num quarto escuro. a única ferramenta que você tem é uma lanterninha. você vai apontando a lanterna para cada parte para poder enxergar, reconhecer objetos, ver onde pisa... agora pense esse quarto como o inconsciente. não tem como (e talvez nem seja recomendado) que você acenda uma luz super forte do teto. pode ser muito pra ver de uma vez só! por isso, a lanterninha. você segura, você aponta, você fraciona algo a ser olhado, aos poucos. e a imagem do quarto vai se formando pra você. e enquanto houver vida, haverá algo novo pra você integrar.
toda vez que passo por um aperto, uma dor, um desânimo, uma tpm avassaladora, uma frustração, uma perda... eu penso: estou iluminando algo novo. ai, como é desconfortável... mas o quarto está ficando mais conhecido.
a irmã de doug, judy, diz: “a vida é mudança, doug. é isso que nos faz diferentes das pedras.”